sexta-feira, 30 de julho de 2010

Criar redes de conversação

Criar redes de conversação
                                                                             
  A Arte de conversar
“Técnicas de conversa foram e continuam a ser inventadas e desenvolvidas por diferentes povos, religiões, sistemas políticos, sociedades, profissões, ofícios e serviços, comunidades e pequenos grupos, e com todas elas podemos enriquecer nosso repertório e buscar inspiração para nossas buscas e criações. Algumas delas se destacam, justamente, por seu enorme potencial democrático. Contudo, como são, muitas vezes, técnicas muito antigas e que operam num quadro de instituições tradicionais, são muito pouco consideradas pelos nossos tão imperfeitos quanto arrogantes sistemas democráticos “ocidentais”.
Um belo exemplo – e que reúne alguns elementos significativos que o aproximam muito da técnica de conversa que estamos enfocando –, é a palabre[8], uma variante africana do parlamento e a principal instituição política da África pré-colonial. Para oferecer uma síntese eloqüente das principais características dessa técnica de conversa e de seu potencial democrático, transcrevemos um comentário da filósofa Isabelle Stengers, que participou de palabres e ficou impressionada com as transformações que são produzidas pelos constrangimentos impostos aos participantes por suas regras de conversar:
“Por definição, cada um dos associados de uma ‘palabre’ sabe alguma coisa da ordem do mundo que deve ser produzido, criado, descoberto, reinventado em torno do caso que os reúne. Mas jamais a intervenção de um deve assumir a forma de uma desqualificação do que diz um outro. Isso é uma regra de conversa: cada um reconhece todos os outros como legítimos e insuficientes – só há ‘palabre’ porque nenhum dos saberes presentes é suficiente para fabricar o sentido da situação. É, então, que podem se produzir as convergências. Não há apelo ao acordo entre os participantes, pois cada um é interessante enquanto divergente. Mas, pouco a pouco, palavras que não pertencem mais a uma pessoa em particular se põem a caracterizar a situação de maneira pertinente e ativa” (Mangeot et al., 2002).

Não poderíamos encontrar síntese mais adequada para o tipo de disposições “morais” e “cognitivas” que estamos prescrevendo para o acolhimento dialogado:
·        o reconhecimento do outro como um legítimo outro;
·        o reconhecimento de cada um como insuficiente;
·        o sentido de uma situação é fabricado pelo conjunto dos saberes presentes.
Resumindo, todo mundo sabe alguma coisa e ninguém sabe tudo, e a arte da conversa não é homogeneizar os sentidos fazendo desaparecer as divergências, mas fazer emergir o sentido no ponto de convergência das diversidades.”



Ricardo Teixeira – recortes da Rede Humaniza Sus

Rizoma Deleuze Duhême

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