quarta-feira, 15 de outubro de 2014

UMA NOVA IMAGEM DO PENSAMENTO
"Todos os homens são capazes de sonhar, supõe-se. Se acaso houver uma exceção, trata-se de um caso patológico, ou pelo menos de uma originalidade. Todos os homens são capazes de amar e de sofrer. Se acaso houver uma exceção, trata-se de um caso patológico, ou pelo menos de uma estranha originalidade. Quanto ao pensamento, não é tão certo, não é tão evidente, que todos os homens sejam capazes de pensar. Se acaso houver aqueles incapazes para o pensamento, não poderemos considerar uma exceção ou mesmo uma originalidade. Do mesmo modo, quase todos os homens são capazes de falar, e daqueles que não o conseguem, sabemos, – temos certeza -, trata-se de uma questão neurológica ou de uma questão histérica. Mas falar e pensar não são sinônimos; não são equivalentes, porque o ato de fala tem a função explícita de materializar as nossas opiniões. E, entre a opinião e o pensamento, a diferença é tão grande quanto o infinito. As opiniões, as nossas opiniões, associam-se às nossas percepções e às nossas afecções, e estas, percepções e afecções, são reguladas pelos nossos interesses e pelos nossos hábitos. Acrescentando-se, de imediato, que o pensamento não expressa hábitos ou interesses; e, até mais do que isto, o pensamento não é manifestação de sentimentos pessoais, de estados vividos; ou seja, nada tem a ver com a personalidade de cada um. O pensamento é como uma potência, uma força, no âmago de cada sujeito, de cada ser humano: mas inteiramente independente das propriedades do sujeito, do eu pessoal. É como se fosse possível dizer que o pensamento é uma terra estranha, um bosque, um pântano, numa geografia que nos constitui."
Claudio Ulpiano

Este texto encontra-se no livro “Pensar de outra maneira, a partir de Claudio Ulpiano” – organização de Mário Bruno, Isabelle Christ e André Queiroz. Editora Pazulin/UFF, 2007.
O texto completo está aqui: http://claudioulpiano.org.br.s87743.gridserver.com/?p=6873#more-6873

contínuos

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pensamento/clínica/expressão